O compromisso que estabelecemos com nós mesmos será o equivalente ao compromisso que estabelecermos com nossas funções existenciais, relações afetivas, estudo, profissão… Sem dúvida começamos a estabelecer estas relações desde nossa infância com nossos pais e modelos primários de identificação. Vejo a dificuldade que temos em estabelecer compromissos com nossas vidas, capacidade em escolher, decisões que darão corpo a nossa identidade profunda. Temos a possibilidade de nos identificarmos com nossos anseios, mas para isso precisamos crer profundamente em nosso ser.
Segundo Becker, seria a ativação de nosso herói que nos faz lutar contra a morte, que é nossa única certeza e nos impulsiona a realizações em nossa vida concreta, preenchendo nossos medos e nosso vazio. O medo pode ser o grande impulsionador ou acabar por paralisar nossa possível ação.
Precisamos estar firmemente vinculados ao EU pessoal, individual, separado do outro para assumirmos nosso processo. Este compromisso só pode se dar quando o EU assume o protagonismo em sua história. Quanto mais nosso processo for “roubado”pelo OUTRO (pais especialmente), menos esse EU terá forças para se apropriar de si e de seus desejos, anseios e vontades. Toda sua força psíquica ficará afrouxada pela não separação, não responsabilização e sobretudo, desconexão com o si mesmo. A história de cada um fica misturada com “cada outro”. Assim despersonalizando a própria identidade do eu. Deixar o outro filho/filha ter um verdadeiro compromisso consigo mesmo. Essa passagem fatalmente passa pela plena autorização que damos a nossa existência de ser única e imprescindível.
Como eu posso deixar o “meu outro” abandonado a sua própria sorte e a seus próprios valores”? Já a ideia do ‘meu” outro é problemática. O outro não é meu. Mas a própria língua, ou talvez, condição inerente ao ser humano, simbiose, nos aproxime desta situação “meu marido”, “minha mulher”,”meus filhos”. O pronome possessivo da linguagem nos mostra a dificuldade em que temos de nos separarmos do outro, de assumirmos uma identidade completamente individual e nos responsabilizarmos por nossas escolhas com insucessos e sucessos.
Esta é então a realidade da condição humana? A eterna luta de diferenciação e posterior busca de uma identidade e caminho inteiramente único e pessoal? Como lutamos desde nosso nascimento heroicamente para chegarmos a mais universal de todas as realidades que é a solidão humana? Seria esta nossa miserável realidade? Mas é solidão ou individualidade absoluta almejada? Individualidade ou autoria de nossa própria história?
Maria Izabel Franco e Bandeira de Mello
Psicóloga e Analista Junguiana
Formada pela PUCSP
Atua há mais de 25 anos na área de Clínica Privada
CRP 06/33102
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