As opiniões são formadas ao longo de nossas vidas. Somos seres históricos, tudo que experimentamos, desde o momento que aprendemos a entender racionalmente as coisas, passamos a criar vieses, ou seja, uma forma tendenciosa de pensar sobre um determinado assunto.
Cada pessoa tem uma estrutura familiar única e diferente de todas as outras, cresceu em uma cidade, bairro, com culturas diferentes, com um determinado poder econômico, religião… sem contar, as experiências individuais que só quem experimentou sabe dizer sobre o impacto que gerou em sua vida.
Todas essas possibilidades ditas anteriormente formam conceitos determinantes em relação às "coisas".
Quando damos uma opinião sobre algo, estamos contaminados pela história que experimentamos e também por toda carga emocional que cada evento registrou em nossa memória. Podemos citar dois tipos de memória envolvidas nesse caso: a memória cognitiva e a memória emocional. Quando lembramos de um endereço, um número de telefone… não estamos recrutando a memória emocional. Você pode perceber que é muito mais fácil emocionalmente falar um texto decorado, do que dizer o que você pensa e sente sobre algo.
Quando vamos emitir uma opinião que envolve a nossa memória emocional, ou seja, que associamos de alguma forma a experiências anteriores, estamos armados de defesa e por consequência diminuímos a capacidade de flexibilizar o pensamento para ouvir algo diferente do que acreditamos. A opinião diferente acaba se tornando uma ameaça e não apenas um outro ponto de vista.
As opiniões são também utilizadas como medida de proteção.
"Não mexa no meu território!"
Inconscientemente, entendemos que mudar uma opinião pode representar baixar a guarda e permitir uma vulnerabilidade que coloque em risco todo o território já defendido e protegido durante anos.
O problema é que, assim como você tem a sua opinião como sistema de proteção e defesa por conta de tudo que você já experimentou em sua vida, o outro também tem! O mais difícil em um diálogo entre duas pessoas, é quando o assunto explorado vem contaminado de muita dor e sofrimento das experiências anteriores, pois ambos não querendo sofrer novamente, tendem a uma certa rigidez e agressividade. A agressividade, impulsionada pela raiva, é uma forma instintiva de dizer para o outro que você não irá permitir que te façam mal novamente.
O conflito acontece quando ambos buscam defender a sua posição como se só houvesse a possibilidade de um estar certo e o outro errado. A questão é que ambos acreditam estarem certos e defendem com unhas e dentes os seus pontos de vista. É nesse momento que o conflito começa! Quando alguém quer virar juiz da verdade e determinar uma verdade absoluta.
Imagine você que todos pudessem pensar da mesma maneira, ter os mesmos valores, gostarem das mesmas coisas… como você acha que o mundo seria? As diferentes maneiras de se pensar sobre algo faz com que evoluamos como seres humanos. Quantas coisas conseguimos modificar por conta de diferentes formas de se pensar?!
Ninguém precisa estar certo ou errado, podemos aceitar que é possível pensar de maneira diferente. Aceitar que uma pessoa pensa de uma maneira diferente da sua, não quer dizer concordar com o que ela pensa, quer dizer aceitar que essa pessoa, tem uma visão diferente da mesma situação que você e por isso vai agir de maneira diferente. Caso você não concorde, veja quais são os recursos possíveis para que os dois possam se sentir melhor em uma tomada de decisão. Um meio termo entre uma opinião e outra. Se não for possível, lidem com as diferenças aceitando que por mais que seja difícil, essa pessoa não precisa ser definida por essa ou aquela opinião, existem muitas outras coisas envolvidas em uma relação, independente da relação (profissional, pessoal, familiar…), que podem também serem colocadas na mesa para que não seja necessário um conflito maior que gere um rompimento.
Psicóloga
Tatiana Auler
CRP 05/56969
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