O medo é incapacitante. A pessoa se sente fraca demais para fazer alguma coisa contra ele. Quando alguém está assustado, pode ficar paralisado de medo.
Um soldado subindo a montanha na batalha de Gettysburg ou um bombeiro diante de uma casa em chamas podem sentir o mesmo medo, medido fisicamente pelas mudanças em seus cérebros. Mas se o soldado ou o bombeiro forem veteranos, o medo não os imobiliza. Eles se relacionam com esse sentimento de uma maneira de diferente de um soldado que nunca enfrentou um canhão ou de um bombeiro que nunca entrou num incêndio. Em outras palavras, ficar paralisado de medo depende de algo mais do que apenas a reação corporal ao medo.
A capacidade que o medo tem de paralisar é misteriosa e mutável. Um alpinista experiente pode estar desfrutando uma escala, sem nenhum risco especial à sua frente, quando de repente estaca, não consegue se mexer. Ele congela na face da rocha porque sua mente, em vez de aceitar como natural o risco de cair, pensa Deus, vejam onde estou!". O medo de cair toma conta dele, e não importa quantas vezes tenha escalado a mesma parede rochosa. Ele computou a experiência de uma maneira diferente.
A maneira como escolhemos reinterpretar uma informação bruta pode trabalhar em nosso benefício. É assim que você decide enfrentar a gozação no pátio da escola ou voltar a montar o cavalo que o atirou no chão. Seu cérebro não é você, nem tampouco suas reações. Franklin Roosevelt declarou uma verdade universal quando disse que "a única coisa que temos a temer é o próprio medo”. A maneira de nos livrarmos de qualquer medo é superar seu poder de nos assustar. (Como os economistas não incluem o fator medo em suas equações, muitos se assustaram com o repentino e total colapso da economia americana depois da bolha imobiliária do fim de 2008 e quando os bancos começaram a ruir. Segundo dados disponíveis, a economia era forte o suficiente para manter muitos milhões de empregos, mas issonão aconteceu. Esse foi um exemplo de que os dados não importam. As pessoas se deixaram dominar pelo medo. Uma ansiedade controlável se transformou em pânico.)
Mente, cérebro e corpo estão conectados. Ter medo do medo gera todos os tipos de sintomas, como fraqueza muscular, fadiga, perda de entusiasmo e energia, esquecimento de que um dia não se tinha medo, falta de apetite e de sono – a lista é grande. Imagine que no meio da noite você se descubra pendurado num penhasco. Na escuridão, você fica apavorado com a ideia de despencar e morrer. Então alguém se aproxima e diz: "Não se preocupe, a queda é de apenas 1 metro". Imediatamente, você se relaciona com sua reação ao medo de uma maneira nova. É fácil sentir pànico e impotência quando se está pendurado num penhasco, mas, quando o medo desaparece, o corpo todo muda. Mesmo que o medo permaneça, saber que você está seguro envia um sinal ao cérebro para restaurar seu estado normal.
Quando a ansiedade nos diz que corremos um grande risco, o corpo não funciona como um reostato – capaz de controlar a reação de medo para cima e para baixo – ele apenas liga e desliga. Até o medo do número treze, conhecido como “triscaidecafobia", pode provocar uma sensação de risco de morte. Um tratamento brusco, mas eficaz, contra fobias usa a saturação para combater o medo exagerado.
Um paciente tinha um medo mortal de veneno de rato e de fios elétricos. A simples visão de um desses objetos o fazia entrar em pânico. Durante esses ataques, o medo o deixava irracional. Seu terapeuta colocou-o numa cadeira e o sedou. Quando ele pegou no sono, o terapeuta amarrou caixas vazias de veneno de rato no seu pescoço e o enrolou em fios elétricos. Assim que despertou e viu o que tinha acontecido, o paciente gritou loucamente. Sua reação fóbica lhe dizia que ele ia morrer. Os fóbicos fazem qualquer coisa para evitar o medo, mas dessa vez ele não podia escapar. Entrou num surto de medo. Mas, à medida que os minutos passaram, ele encontrou uma saída. A fobia já não o dominava totalmente porque o terror diminuíra.
Não estamos recomendando a saturação. Não é essa a nossa mensagem. Mas é preciso neutralizar o medo que o medo provoca. Para livrar-se do medo de ficar ansioso, você precisa cultivar pensamentos como os seguintes:
• Por mais assustador que isso seja, não vou morrer.
• Preciso enfrentar minha sensação exagerada de perigo.
• Como sei que vou sobreviver, posso me arriscar a não fugir
do medo.
• Posso encarar o medo e fazer coisas que me assustam.
• Quanto mais eu enfrentar o medo, mais domínio terei sobre ele.
• Quando eu tiver controle total sobre ele, meu medo desaparecerá.
Esse é o passo final para se livrar da ansiedade permanente. Mas você pode resolver o problema começando por qualquer um dos passos que analisamos. O objetivo é sempre o mesmo: encontrar uma posição mais distanciada. As fobias provam que a realidade não é suficientemente forte para vencer o medo. Você pode colocar aranhas inofensivas em alguém que tenha um medo mortal delas, e seu pânico pode induzir um ataque cardíaco. O que é mais forte que a realidade? Saber que é você quem cria a realidade. Esse é o ponto crucial. Uma vez recuperada a clareza que nasce de saber como a realidade é criada, você estará livre. Você invadiu o território do cérebro e declarou que está no comando. O criador voltou.
Deepak Chopra / Rudolph E. Tanzi
Livro: Super Cérebro - Como expandir o poder transformador da sua mente.
Tatiana Auler
Psicóloga
CRP 05/56969
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